Nos Estados Unidos, um a cada 36 crianças é diagnosticado com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), enquanto no Brasil, ainda não há dados oficiais, mas estima-se que cerca de 2 milhões de pessoas tenham autismo. Uma revisão publicada no Journal of Neurology Research pelo Instituto Butantan mostra que, embora os diagnósticos estejam acontecendo de forma cada vez mais precoce, ainda é necessário ampliar o conhecimento sobre os diferentes graus do distúrbio e permitir tratamentos mais individualizados e efetivos.
O artigo coordenador pelo pesquisador Ivo Lebrun, do Laboratório de Bioquímica e Biofísica, e conduzido por sua aluna de doutorado Nádia Isaac da Silva, traça um panorama da história do autismo e resgata os primeiros relatos de casos, a evolução do conceito e da classificação, características clínicas, prevalência e perspectivas futuras.
A publicação da 5ª edição do Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) pela Associação Americana de Psiquiatria em 2013 uniu todas as subclasses do autismo, reconhecendo-o como um espectro com graus variáveis. A Classificação Internacional de Doenças (CID-11) seguiu o mesmo padrão, unificando todos os quadros com características do autismo.
Embora a maior conscientização sobre o tema tenha ajudado a identificar o transtorno cada vez mais cedo, entre 1 ano e meio e 3 anos de idade, o diagnóstico é baseado somente em observação do comportamento, o que muitas vezes dificulta uma análise conclusiva. Para fechar o diagnóstico, é importante ter uma equipe multidisciplinar, e são poucas as pessoas que têm acesso a esse tipo de acompanhamento.
Cada pessoa com autismo é única, com diferentes pontos do desenvolvimento comprometidos, e o ideal é que cada paciente tenha um acompanhamento personalizado, englobando terapia ocupacional, fonoaudiologia, intervenções educativas, mas é difícil encontrar uma instituição pública que tenha toda essa estrutura, e as particulares têm um custo alto. Quando essas intervenções não são suficientes, e a pessoa manifesta sinais como agressividade, depressão e ansiedade, o tratamento também pode incluir medicamentos para amenizar os sintomas.
Os sinais do autismo costumam aparecer antes dos três anos de idade. Crianças com TEA tendem a se apegar a objetos e rotinas específicas e apresentar déficit de comunicação e interação social. Pode haver também hipo ou hipersensibilidade a estímulos sensoriais, como luz, sons e dor.
A deficiência intelectual é outra característica que se apresenta em diferentes graus em aproximadamente 30% a 50% dos casos de autismo, e cerca de metade das pessoas com TEA têm algum distúrbio psiquiátrico, como bipolaridade, depressão, ansiedade, déficit de atenção e hiperatividade.
Diversas estratégias têm sido adotadas para ampliar o conhecimento sobre o TEA e possibilitar tratamentos mais individualizados. Uma das abordagens descritas no artigo são os biobancos, que compartilham dados de amostras de sangue e sequenciamento genético de pessoas com autismo entre pesquisadores de todo o mundo.